Desde que o computador se tornou pessoal e a
rede mundial, muito se fala sobre uma revolução iminente na educação –
educação entendida como sistema escolar. O fato é que já estamos há duas
décadas neste processo e o sistema de ensino pouco se afetou. Mas este
baixo impacto da revolução tecnológica no ensino escolar não passou
incólume – a cada dia, mais e mais se fala do fracasso do sistema, do
descrédito da profissão de ensinar, da indisciplina dos estudantes. Os
dois fenômenos – a revolução tecnológica e o fracasso do sistema escolar
– estão ligados: a nova geração tem uma forma de pensar, agir, se
comunicar e relacionar que não encontra ressonância no modelo escolar.
As crianças e os jovens encontram nas novas tecnologias os recursos
necessários para o processo de aprendizagem. Não se trata de conteúdos,
mas sim de estímulo à curiosidade, de diversão, de oportunidades para
que se percebam autores, de diálogos múltiplos, de desafios constantes,
de aventura. É assim que saem da passividade da sala de aula para o
engajamento nas redes sociais.
O potencial das tecnologias para a inovação na educação está no
reconhecimento desta inversão radical no papel do estudante, de objeto
para sujeito da aprendizagem. Quando a tecnologia entra no sistema de
ensino sem isso, torna-se panaceia, remédio para a cura de todos os
males, uma forma de dourar a pílula amarga da escola: o ambiente onde
predomina a hostilidade entre estudantes e professores, os conteúdos
descontextualizados, o ensino burocratizado, o desânimo generalizado.
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de apostar na
revolução empreendida pela hipermídia, com sua estrutura reticular,
transversal, que favorece a exploração e a curiosidade, reproduz no
mundo digital a forma enciclopédica, com sua coletânea de verbetes e
fascículos que se empilham e acumulam mantendo a estrutura linear das
notas, séries, disciplinas e aulas.
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de promover a
autoria do estudante no processo de aprendizagem, reproduz na forma
digital a estrutura das aulas centradas no saber dos professores. Ver
uma aula filmada pode ajudar o aluno a reter conteúdos, superando a
relação hostil que marca a sala de aula real e dando-lhe a oportunidade
de pausar e voltar, mas está longe de promover efetivo aprendizado.
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de envolver os
jovens em desafios reais como a colaboração coletiva em larga escala
para uma nova descoberta ou para a disseminação de uma nova atitude,
reproduz a artificialidade da sala de aula em games onde os riscos e as
decisões a serem tomadas são todos controlados e limitados.
A tecnologia é inovadora na educação quando potencializa o
autoaprendizado e as formas colaborativas de produção de conhecimento. A
tecnologia é pílula dourada quando usada como ferramenta para reter
conteúdos definidos externamente, ou para reproduzir no ambiente virtual
um simulacro do real, assim como se faz em sala de aula. Nesta medida,
quando reduzida a vídeos de aulas ou games de determinados conteúdos, a
tecnologia aplica-se perfeitamente adoçar os amargos exames baseados em
testes de múltipla escolha, por exemplo, tornando menos desagradável a
tarefa de estudar conteúdos que não interessam às crianças e aos jovens.
Mas, a tecnologia será inovadora quando for usada para avaliação da
aprendizagem significativa em outras bases, que favoreçam a
criatividade, o pensamento e a atitude críticos.
Em resumo, a tecnologia é inovadora na educação quando promove a
transformação nas dimensões de tempo, espaço e relacionamento humano no
ambiente educativo. Se as tecnologias da informação são usadas dentro
das quatro paredes da sala de aula, nos horários fracionados das aulas,
na abordagem especializada das disciplinas, sob autoridade do professor e
voltadas para avaliações lineares e episódicas, então elas não aportam
inovação e sim, reforço da mesma estrutura desgastada e distante das
novas gerações.
O potencial revolucionário da tecnologia está dado. Hoje são milhões
de pessoas conectadas no mundo todo, inclusive no Brasil, e novos
aplicativos estão possibilitando cada vez mais o desenvolvimento da
criação colaborativa, sob demanda, online, digital, móvel e inteligente.
As decisões a serem tomadas na educação devem considerar este fato e
suas decorrências: as desigualdades em termos de autoria e difusão de
ideias entre os que programam e os que não programam; a questão da
validação dos conteúdos – se é um corpo editorial ou a comunidade de
usuários, o que implica a necessidade de criação de uma massa crítica
para fontes difusas; o uso da tecnologia para a promoção em escala da
educação de qualidade. Estas são as questões decorrentes dos aspectos
realmente inovadores das tecnologias na educação.
Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/10/08/tecnologias-na-educacao-entre-inovacao-e-panaceia/
Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/10/08/tecnologias-na-educacao-entre-inovacao-e-panaceia/