quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Tecnologias na Educação: entre inovação e panaceia

Desde que o computador se tornou pessoal e a rede mundial, muito se fala sobre uma revolução iminente na educação – educação entendida como sistema escolar. O fato é que já estamos há duas décadas neste processo e o sistema de ensino pouco se afetou. Mas este baixo impacto da revolução tecnológica no ensino escolar não passou incólume – a cada dia, mais e mais se fala do fracasso do sistema, do descrédito da profissão de ensinar, da indisciplina dos estudantes. Os dois fenômenos – a revolução tecnológica e o fracasso do sistema escolar – estão ligados: a nova geração tem uma forma de pensar, agir, se comunicar e relacionar que não encontra ressonância no modelo escolar.
 
As crianças e os jovens encontram nas novas tecnologias os recursos necessários para o processo de aprendizagem. Não se trata de conteúdos, mas sim de estímulo à curiosidade, de diversão, de oportunidades para que se percebam autores, de diálogos múltiplos, de desafios constantes, de aventura. É assim que saem da passividade da sala de aula para o engajamento nas redes sociais.
 
O potencial das tecnologias para a inovação na educação está no reconhecimento desta inversão radical no papel do estudante, de objeto para sujeito da aprendizagem.  Quando a tecnologia entra no sistema de ensino sem isso, torna-se panaceia, remédio para a cura de todos os males, uma forma de dourar a pílula amarga da escola: o ambiente onde predomina a hostilidade entre estudantes e professores, os conteúdos descontextualizados, o ensino burocratizado, o desânimo generalizado.
 
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de apostar na revolução empreendida pela hipermídia, com sua estrutura reticular, transversal, que favorece a exploração e a curiosidade, reproduz no mundo digital a forma enciclopédica, com sua coletânea de verbetes e fascículos que se empilham e acumulam mantendo a estrutura linear das notas, séries, disciplinas e aulas.
 
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de promover a autoria do estudante no processo de aprendizagem, reproduz na forma digital a estrutura das aulas centradas no saber dos professores. Ver uma aula filmada pode ajudar o aluno a reter conteúdos, superando a relação hostil que marca a sala de aula real e dando-lhe a oportunidade de pausar e voltar, mas está longe de promover efetivo aprendizado.
 
A tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de envolver os jovens em desafios reais como a colaboração coletiva em larga escala para uma nova descoberta ou para a disseminação de uma nova atitude, reproduz a artificialidade da sala de aula em games onde os riscos e as decisões a serem tomadas são todos controlados e limitados.
 
A tecnologia é inovadora na educação quando potencializa o autoaprendizado e as formas colaborativas de produção de conhecimento. A tecnologia é pílula dourada quando usada como ferramenta para reter conteúdos definidos externamente, ou para reproduzir no ambiente virtual um simulacro do real, assim como se faz em sala de aula. Nesta medida, quando reduzida a vídeos de aulas ou games de determinados conteúdos, a tecnologia aplica-se perfeitamente adoçar os amargos exames baseados em testes de múltipla escolha, por exemplo, tornando menos desagradável a tarefa de estudar conteúdos que não interessam às crianças e aos jovens. Mas, a tecnologia será inovadora quando for usada para avaliação da aprendizagem significativa em outras bases, que favoreçam a criatividade, o pensamento e a atitude críticos.
 
Em resumo, a tecnologia é inovadora na educação quando promove a transformação nas dimensões de tempo, espaço e relacionamento humano no ambiente educativo. Se as tecnologias da informação são usadas dentro das quatro paredes da sala de aula, nos horários fracionados das aulas, na abordagem especializada das disciplinas, sob autoridade do professor e voltadas para avaliações lineares e episódicas, então elas não aportam inovação e sim, reforço da mesma estrutura desgastada e distante das novas gerações.
 
O potencial revolucionário da tecnologia está dado. Hoje são milhões de pessoas conectadas no mundo todo, inclusive no Brasil, e novos aplicativos estão possibilitando cada vez mais o desenvolvimento da criação colaborativa, sob demanda, online, digital, móvel e inteligente.
 
As decisões a serem tomadas na educação devem considerar este fato e suas decorrências: as desigualdades em termos de autoria e difusão de ideias entre os que programam e os que não programam; a questão da validação dos conteúdos – se é um corpo editorial ou a comunidade de usuários, o que implica a necessidade de criação de uma massa crítica para fontes difusas; o uso da tecnologia para a promoção em escala da educação de qualidade. Estas são as questões decorrentes dos aspectos realmente inovadores das tecnologias na educação.



Fonte:  http://portal.aprendiz.uol.com.br/2012/10/08/tecnologias-na-educacao-entre-inovacao-e-panaceia/

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Número de universitários brasileiros cresce quase 6%


O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse que a fase mais aguda da expansão já ficou para trás: o foco, de acordo com ele, é aumentar a qualidade do ensino. "Nossa prioridade hoje é consolidar a expansão que foi feita no Reuni. E só vamos partir para o 3º Reuni depois de consolidar essa expansão e dar qualidade ao que nós fizemos. Há câmpus universitários que têm deficiências", disse ele, durante a divulgação do censo.

Do total de alunos de graduação, 73,7% estão em instituições particulares. As entidades federais correspondem a 15,3% do total de estudantes matriculados, as estaduais, a 9,1%, e as municipais, a 1,7%. Quando se leva em conta apenas os estudantes que ingressaram no ensino superior em 2011, o índice é diferente: 79% se matricularam em instituições privadas, 13,1% em federais e 6,2% em estaduais.
No ano passado, o número total de concluintes em todo o ensino superior ultrapassou pela primeira vez a marca de 1 milhão de pessoas. Nesse universo, os oriundos de entidades federais são 10,9%. Os alunos de universidades estaduais somam 8,6%.

Ao todo, 14,7% dos alunos de graduação estão matriculados em cursos à distância. Mercadante disse que o governo freou a aceleração desse ramo de ensino. "O Brasil pode e deve aumentar o ensino à distância. Mas nós estamos regulando esse setor com mais exigência", disse o ministro.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Seis em cada dez universitários querem abrir o próprio negócio

Concluir o ensino superior e conseguir um bom emprego já não é o principal objetivo da maior parte dos universitários brasileiros. A ambição de seis em cada dez estudantes é ter o próprio negócio. É o que revela a pesquisa Empreendedorismo em Universidades Brasileiras, realizada pela Endeavor - organização sem fins lucrativos especializada em identificar e viabilizar potenciais empreendedores. Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Endeavor realiza, até a próxima quarta-feira, a Rodada de Educação Empreendedora, evento que tem como objetivo promover melhores práticas de empreendedorismo nas salas de aula.
 
O levantamento ouviu 6.215 pessoas de todas as regiões do país e indica que os homens tendem a ser mais empreendedores do que as mulheres: 67,5% manifestaram este desejo contra 51,7% do sexo oposto. Um longo caminho, porém, separa a vontade de ter um negócio próprio da ação concreta em busca desse objetivo. Entre os potenciais empreendedores, apenas 38,1% afirmaram que dedicam algum tempo estudando como iniciar um novo projeto e somente 24,4% economizam dinheiro para esse fim.
 
Um das conclusões da pesquisa é que os brasileiros são `extremamente confiantes` em relação às suas capacidades pessoais, mas se sentem inseguros sobre os conhecimentos técnicos necessários para abrir uma empresa e tampouco se esforçam o suficiente para buscar informações. `Existe uma diferença muito significativa entre as intenções e ações empreendedoras. Sobra vontade, mas falta ação`, afirma Amisha Miller, gerente de pesquisa e políticas públicas da Endeavor. Segundo ela, o jovem precisa ter consciência de que abrir uma empresa não é algo simples ou rápido. `É preciso acreditar em si próprio, claro, mas se preparar para empreender é essencial para ter um negócio sustentável no longo prazo`, diz.
 
Os universitários que já são empreendedores representam 8,8% dos entrevistados, sendo que a maioria esmagadora possui empresas com até 10 funcionários. A pesquisa reforça o conceito de que empreendedorismo vem de casa: 62,8% dos jovens que empreendem afirmaram que os pais também têm negócios próprios.
 
Universidades – O empreendedorismo está em evidência nas instituições de ensino superior: 76,1% das universidades analisadas oferecem alguma disciplina de empreendedorismo nos cursos que oferecem - porcentagem bem maior que a média mundial, que é de 24,8%. Ainda assim, isso não se reflete na situação dos universitários entrevistados, visto que apenas 39,7% afirmaram que já cursaram uma disciplina ligada a empreendedorismo.
 
Uma das possíveis razões para essa discrepância, segundo a pesquisa, é que, embora a educação empreendedora tenha ganhado destaque nos últimos anos, grande parte das instituições oferece cursos superficiais, como Introdução ao Empreendedorismo (69,9%) e Criação de novos negócios (63,0%). Cursos mais específicos, como Finanças para Pequenos Negócios e Inovação e Tecnologia fazem parte do currículo de um porcentual bem menor de universidades: 26,1% e 39,1%, respectivamente. Para a Endeavor, além de expandir a oferta, é preciso diversificá-la. `As universidades devem, em primeiro lugar, oferecer cursos para todos os seus alunos. Depois, incentivá-los a participar de instituições estudantis, propiciar estágios em empresas recém-criadas e visitas a startups. Essas ações aumentam a vontade e confiança de empreender`, diz Amisha.
 
 
Fonte:  Lecticia Maggi - Revista Veja - 08/10/2012 - São Paulo, SP
 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Pesquisa mostra como os adolescentes usam internet no Brasil


Com intuito de mapear como as crianças e adolescentes estão utilizando a internet no Brasil, o CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil) realizou uma pesquisa com jovens e pais de todas as regiões do Brasil. Os resultados da pesquisa TIC Kids Online Brasil foram divulgados na manhã desta terça-feira (2) pelo órgão.
A pesquisa mostrou que 70% dos jovens entre 9 e 16 anos têm perfis em redes sociais e 68% usam a internet para navegar em redes sociais. Entre as crianças de 9 a 10 anos, este valor abrange 44% do total. Já entre pré-adolescentes de 11 e 12 anos, o percentual de usuários de redes sociais chega a 71%.
De acordo com o levantamento, a maioria das crianças também afirma mentir a idade nas redes sociais. Um dos motivos para isso pode ser a proibição do Facebook (rede social mais popular do Brasil) para menores de 13 anos.

Pesquisa mostra que jovens estão “hiperconectados”

A pesquisa mostra que os jovens estão se conectando cada vez mais cedo. Um terço dos entrevistados afirmam ter tido o primeiro contato com a internet aos 9 ou 10 anos. A maioria (36%) acessa a internet por meio de computadores, mas o número de crianças que acessa internet via celular chega aos 21%.
Em relação à frequência de acesso, 85% afirmam entrar na web pelo menos uma vez por semana. Já 47% das crianças acessam a internet todos os dias. Entre os pais, o índice de acesso cai. Cerca de 53% dos responsáveis entrevistados afirmam não usar internet.
Tanto contato com o mundo digital faz 75% das crianças entrevistadas acreditarem que sabem mais de internet do que os pais. Esse dado mostra que os adolescentes estão muito mais conectados que os adultos, mas também pode apontar alguns perigos no uso da internet.

Pais se mostram preocupados com o que os filhos fazem na internet

O TIC Kids Online Brasil também apontou que o uso da internet por jovens deixa os responsáveis preocupados. Do total de pesquisados, 10% afirma que não têm controle algum do que os filhos fazem online. Apenas 38% dos entrevistados afirmaram ter noção de todas as ações que os filhos realizam na web.
A maior preocupação dos pais em relação ao uso aos filhos na internet é que eles sejam vítimas de um crime. Mais de 50% dos entrevistados ainda têm preocupação com o uso de drogas, contato com desconhecidos e que o desempenho na escola seja prejudicado pela exposição na internet.
Como principal medida de segurança, os pais afirmam olhar o histórico da internet dos filhos. Detalhe: 50% dos usuários de 9 a 16 anos afirmam saber apagar os sites visitados. O relatório completo da pesquisa pode ser acessado no site oficial da pesquisa.


Por Edgar Matsuki, do Portal EBC.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Educação é também um ato político

A sociedade brasileira anda carente de pessoas pensantes e cognoscentes. Pessoas com liderança para direcionar uma multidão de brasileiros alienados para uma seara de conhecimento, criticidade e também prosperidade.
 
A ciência política tem a função de esclarecer o povo de que o poder existe para favorecê-lo, fazendo prevalecer a vontade deste, uma vez que o poder é emanado do próprio povo.
 
A política é uma palavra oriunda da palavra polis (cidades, estados) e está relacionada à forma de organização, direção e administração das nações ou estados. Ela busca uma maneira de conquistar o poder e de se manter nele. O poder do homem sobre outro homem, o poder de influenciar os outros.
 
Uma dificuldade encontrada pelos educadores em se trabalhar a política nas escolas é o despreparo dos gestores que se encontram contaminados pela politicagem que não é nada mais que uma política mesquinha e de interesses pessoais, reforçada por políticos desonestos e inescrupulosos. Esses gestores em sua maioria são frutos desse meio, uma vez que os cargos oferecidos, na sua maioria, não são baseados na meritocracia, salvo  algumas exceções acertos na escolha, o que não se torna regra.
 
Essa escolha de gestores favorece o sistema falho em que nos encontramos, e este por sua vez inibe e até mesmo coíbe qualquer pronunciamento político nas escolas, mesmo sem ter uma ideologia partidária, pois a intenção para os educadores é apenas esclarecer seus educandos da política e sua relevância para a vida da sociedade e não fomentar o partidarismo.
 
A política não é apenas o ato de bem governar os povos, e tampouco a habilidade no trato das relações humanas, com vista na obtenção dos resultados desejados. Ela é uma atividade de cidadãos que se ocupam com assuntos públicos favorecendo sempre o coletivo e nunca o individual.
 
A educação necessita de uma neodiretividade tendo com um dos viés a política, que mostra o poder que se impera invalidando o saber que eleva o educando ao grau de criticidade. O saber correto, que fomenta a dúvida e faz com que se busque as respostas adequadas, e que não se deixe ser manipulado pela classe opressora e dominante, que gera o poder e subjuga o povo reforçando cada vez mais o domínio da elite, deste povo sofrido e desamparado, sem ter consciência de que se encontram nessa triste posição.
 
Quando conseguirmos trabalhar e desenvolver em nossos educandos não só conceito político, mas uma conscientização, estaremos fazendo com que estes deixem de ser analfabetos políticos que, segundo afirma Bertolt Brecht, dessa ignorância, nasce a “prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
 
Portanto cabe a nós educadores pensarmos como trabalhar essa conscientização em nossos educandos, sem nos deixarmos ser afetados pela coação de gestores com desculpas de que a escola não é um espaço para prapaganda eleitoral, o que não é a intenção da educação, pois ela deve ser neutra politicamente, mas sem deixar de ser omissa com a sua função de educar para a cidadania e o protagonismo, e esse protagonismo para existir, faz-se mister interagir com os acontecimentos políticos.
 
 
 

USP e FGV lançam aulas e simulados na web para alunos do ensino médio

A Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Getulio Vargas (FGV) lançaram portais com conteúdos para alunos do ensino médio. Tanto o Portal e-Aulas USP como o Programa FGV Ensino Médio Digital reúnem materiais de estudo para alunos desta modalidade de ensino.
 
O portal da USP disponibiliza videoaulas das áreas de humanas, exatas e biológicas produzidas pela universidade. Ele foi inspirado em portais semelhantes de instituições internacionais de ensino superior, como Massachusetts Institute of Technology (MIT), Harvard e Princeton.
 
Na segunda fase do projeto, que deverá ser implementada até o final do ano, o portal permitirá que os vídeos sejam legendados e que outros arquivos sobre o assunto em questão, mesmo que estejam em formatos diferentes, possam ser inseridos.
 
Segundo a pesquisadora do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores da Escola Politécnica e coordenadora do Grupo Gestor do e-Aulas, Regina Melo Silveira, o Portal e-Aulas USP também será incorporado ao Portal de Busca Integrada do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi). Dessa forma, o usuário que pesquisar sobre um determinado assunto obterá como resultado não apenas livros, teses e artigos relacionados, mas também os vídeos produzidos sobre o tema.
 
Simulados e jogos
 
O portal da FGV traz material sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), simulados, jogos e aulas.
 
Há conteúdos de todas as áreas de conhecimento, divididos em blocos temáticos – cursos – que, por sua vez, estão subdivididos em aulas também estruturadas em tópicos temáticos específicos. Os cursos dão uma visão geral de cada área de conhecimento que compõe o programa do ensino médio. Ao final de cada aula, o internauta poderá encontrar questões de autoavaliação de múltipla escolha com gabarito e comentários.
 
Também é possível encontrar simulados divididos por áreas de conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias (contemplando questões de português, literatura, redação, inglês e práticas corporais); matemática e suas tecnologias (contemplando questões de matemática); ciências da natureza e suas tecnologias (contemplando questões de física, química e biologia); e ciências humanas e suas tecnologias (contemplando questões de história, geografia, filosofia e sociologia). O teste de cada área do conhecimento tem 15 questões que são escolhidas aleatoriamente pelo sistema. A duração da prova é de 45 minutos.
 
 
 
Fonte: G1 Globo.com - 18/09/2012 - Rio de Janeiro, RJ

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Falta de ambição atrapalha educação no Brasil

Fui fazer faculdade nos Estados Unidos em 1995 e depois voltei para mais dois anos de mestrado lá. Saí mais otimista em relação ao Brasil do que quando cheguei. Até aquela época, o contato com os EUA se resumia a férias, filmes e encomendas trazidas de viagem. Sob esse prisma, o país parecia uma Terra Prometida, onde tudo era bom e barato e as pessoas, ricas e civilizadas. Se era assim na média, imaginei que depararia com verdadeiros super-homens nas universidades Ivy League para as quais me dirigia. Felizmente, eu me decepcionei. Meus colegas americanos eram muito mais ignorantes e superficiais do que eu imaginara. E, fora as questões intelectuais, me chamou a atenção seu desajuste emocional. Parecia que todo mundo estava ou brigado com os pais, ou tomando antidepressivos ou indo a festas para beber até cair. Muitas pessoas se encaixavam nas três categorias. Se esse pessoal conseguiu construir a potência hegemônica do planeta, pensei eu, nós também podemos. Yes, we can!

A volta ao Brasil depois de oito anos foi, porém, surpreendente. Porque era (e segue sendo) claro que o país se divide em dois grupos. Um é cosmopolita, aguerrido, preparado e ambicioso. Gente que tem fome, que quer competir com o que há de melhor no mundo. Ayrton Senna. O outro é provinciano, malemolente, com baixa instrução, acomodado. Um pessoal que está satisfeito com o que a vida lhe deu. Macunaíma. Impossível quantificar construtos tão subjetivos, mas diria sem medo de errar que o segundo grupo é muito mais numeroso do que o primeiro.

Prova indireta disso é que os slogans dos presidentes democraticamente eleitos nas últimas décadas - portanto, afinados com a mentalidade coletiva - pertencem quase todos ao segundo grupo. Sarney: “Tudo pelo social”. Itamar: “Brasil, união de todos”. Lula I: “O melhor do Brasil é o brasileiro”. Lula II: “Brasil, país de todos”. Dilma: “País rico é país sem pobreza”. Todos esses olham para dentro e para trás: o foco é sanar desigualdades, incluir, corrigir os erros do passado, glorificar o que temos. Com exceção do “Avança, Brasil” de FHC, ninguém faz menção ao mundo exterior ou ao futuro, ninguém almeja tornar o Brasil aquilo que, até por suas dimensões e riquezas naturais, ele deveria naturalmente querer ser: uma potência mundial.

Compreender e explicar essa acomodação está além deste espaço e deste colunista, mas as consequências desse espírito são claras: ficamos muito abaixo do que poderíamos ser. Tanto a literatura acadêmica (disponível em twitter.com/gioschpe) quanto a minha experiência de vida têm me mostrado que a gana individual - perseverança, resiliência, ambição - é fator fundamental no sucesso de uma pessoa, aliada à qualidade de sua formação. Não faltam inventividade e persistência ao brasileiro: o problema é que os sonhos de muitos compatriotas são bem mais acanhados do que poderiam ser. Alguém já disse que o homem prudente é como o bom arqueiro: mira sempre um pouco acima do alvo. O Brasil já mira abaixo do que deveria, e portanto acaba alcançando ainda menos do que ambiciona.

Em nenhum lugar esse rasgo da nossa psique está mais aparente e imbricado com uma complexa relação de causalidade do que em nosso sistema educacional. Se a nossa pouca ambição já vem de família, certamente ela é muito reforçada em nossas escolas. Em um perfil do professorado brasileiro traçado pela Unesco e pelo MEC, 75% dos professores declararam preferir a igualdade à liberdade. O objetivo da nossa escola é homogeneizar, não desenvolver talentos. Um levantamento de 2007 do Inep, o órgão de pesquisas do MEC, identificou 2 553 alunos superdotados na educação brasileira. Para identificar menos de 3 000 superdotados em uma rede de mais de 50 milhões de alunos é preciso um esforço consciente de cegueira. Eis aí uma diferença básica entre o que vivi em escolas brasileiras e universidades americanas: aqui, o bacana era o cara que não estudava, baladeiro, safo. O aluno aplicado é “nerd”, otário. Lá, assim como em outros sistemas educacionais de ponta, valorizado é o aluno que estuda muito e tira ótimas notas. Nos EUA, os melhores alunos entram para honors lists; na Alemanha, há sistemas educacionais diferentes para aqueles com ambições acadêmicas mais altas; na China, os alunos são ranqueados e precisam de boas notas para adentrar as melhores escolas e, depois, as universidades. Aqui, o histórico escolar da pessoa não importa. O jogo é zerado no momento da entrada para a universidade, decidido por meio de um único teste (vestibular ou Enem). No Brasil, há uma estranha percepção de que recompensar os melhores e mais aplicados seria romper o éthos republicano. Nossos professores descreem de seus pupilos: só 7% deles acreditam que quase todos os seus alunos chegarão à universidade, segundo questionário da Prova Brasil 2009. Nosso desastre educacional também desestimula ambições ao tirar do brasileiro o preparo intelectual que é o pré-requisito para voos mais altos. Pesquisa do Inaf mostra que 74% dos adultos brasileiros não são plenamente alfabetizados. Com esse despreparo, sonhar muito alto pode ser sinal de doença psiquiátrica.

A má educação causa a falta de ambição e é também causada por ela. Nos países que deram grandes saltos, a educação não foi percebida como um fim, mas como parte de um projeto nacional. China do século XXI, Coreia da década de 70, Estados Unidos dos anos 30, Japão do pós-guerra: nesses e em outros casos, os países perseguiam um sonho de grandeza. A educação não era o ponto de chegada, mas parte da ponte até o futuro glorioso. Parte do nosso problema é que, ao não termos um projeto nacional inspirador, a educação deixou de ser uma questão dos brasileiros e se tornou propriedade dos professores e funcionários. Alguns deles têm espírito público e generosidade e fazem o melhor que podem para os seus alunos e, consequentemente, o país. Mas a maioria acaba se acomodando em um sistema que não incentiva o mérito, nem pune o demérito; as únicas causas que defendem são as suas próprias.

Mas será que precisamos ser mais ambiciosos? O Brasil já apareceu nas primeiras posições em levantamentos internacionais de felicidade. Os céticos dirão que optamos por menos ambição e desenvolvimento em troca de mais bem-estar, sociabilidade e alegria. Acho essa uma falsa dicotomia. É possível ser simultaneamente desenvolvido e alegre. Na última pesquisa Gallup sobre felicidade mundial, realizada de 2005 a 2011, os dez primeiros colocados eram todos do Primeiro Mundo e os dez últimos, subdesenvolvidos. Sou cético quanto à qualidade de uma escolha tomada em situação de pobreza intelectual como a que temos no Brasil. Longe de mim sugerir que analfabetos não devam poder decidir sobre a vida deles. Democracia e liberdade são valores supremos. Mas seria demagógico supor que a qualidade das decisões que uma pessoa toma não muda com melhorias radicais de instrução. Pesquisas mostram que pessoas mais instruídas fumam menos e são mais saudáveis. Finalmente, não creio que seja lógico ou ético optar pelo nosso atual patamar de desenvolvimento, quando ele significa que tantos milhões de pessoas estariam condenadas a uma vida indigna, da mais absoluta privação. Eu não teria problema de viver em um Brasil que, a exemplo da França, optou por reduzir a semana laboral, trocando riqueza por lazer e família - desde que o Brasil chegue ao patamar da França, em que há riquezas acumuladas para bancar a “preguiça” e validar a decisão de pegar leve. O Brasil ainda não chegou lá. Temos um caminho longo. Convém mirar mais alto do que vimos fazendo.
 
 
Fonte: Gustavo Ioschpe - Revista Veja - 08/09/2012 - São Paulo, SP